“Agora, nossa prioridade e a exploração do óleo”, tem dito a presidente da Petrobrás, Graça Foster.

Quando o petróleo era barato, buscava-se agregar valor com a produção de derivados e petroquímicos e substituir importações de derivados, petroquímicos e fertilizantes. A Petrobrás, então importadora de derivados, direcionou sua estratégia para o investimento na ampliação de sua capacidade de refino de petroquímicos e na frota de petroleiros, visando a. importar e refinar óleo. O aumento nos preços do óleo resultou na intensificação da atividade de prospecção em novas regiões e o consequente aumento da demanda por tecnologia. Proporcionou à indústria novos parâmetros de risco e remuneração e levou à maior concentração das companhias de petróleo nas atividades de exploração e produção (E&P).

Para a Petrobrás, a conjuntura de preços de petróleo elevados, o prognóstico de escassez e a missão de garantir o suprimento de combustíveis ao País foram os elementos determinantes na estratégia de intensificar recursos em engenharia e tecnologia e o desenvolvimento da prospecção nas novas áreas offshore. Mais que acompanhar uma nova tendência, o sucesso exploratório da Petrobrás surpreendeu o mundo e passou a liderar a fronteira tecnológica de E&P em águas profundas.

Nos últimos anos, o mercado tem constatado o uso da estatal como instrumento de política econômica, e isso causa preocupação aos investidores e, principalmente, aos acionistas. Questiona-se o custo que a Petrobrás paga para se manter monopolista, verticalizada, atuando em todos os segmentos da indústria. Até que ponto a atuação em todos os segmentos downstream, fruto de posições adotadas no passado, deveria ceder espaço a uma estratégia mais intrinsecamente ligada à preservação dos interesses e resultados da Petrobrás.

A empresa não precisa atuar em atividades em que o monopólio natural regulado pelas agências restringe as margens. Qual a razão de investir ou mesmo participar com 100% nesses ativos regulados? Não há por que comprometer recursos que seriam empregados em E&P, com retornos maiores, em segmentos que proporcionam margens satisfatórias para investidores com perfil mais conservador e menos avesso a risco.

A Petrobrás controla 100% dos ativos em transporte de óleo e gás na Transpetro e na TAG, Admitir a entrada de capital privado nessas empresas não pode ser entendido como processo de privatização, mas de capitalização, Não há fundamentalmente nenhuma diferença entre a atuação em parceria com outras companhias em E&P e oferecer participação acionária para capitalizar a Transpetro ou a TAG.

Se as concessionárias estaduais de gás canalizado já têm garantido o monopólio da distribuição no Estado e, em sua maioria, as empresas já se encontram consolidadas, qual o sentido de a Petrobrás se manter sócia? Indutora do crescimento? Prêmio adicional?

Com a reestruturação da gestão corporativa, os desinvestimentos e as mudanças no marco regulatório impostos pela Lei da Partilha, estariam sendo criadas as condições essenciais para que a Petrobrás volte a ser uma das mais valiosas petroleiras do mundo.
A empresa está diante de duas alternativas distintas reencontrar a trajetória da eficiência perdida e retomar o ciclo virtuoso do lucro e do investimento ou se transformar num mero braço político-econômico do governo.

Comparada sempre às grandes empresas do setor de petróleo com atuação multinacional, a Petrobrás terá de deixar o cacoete de empresa nacional do qual já se havia distanciado e voltar a ser capaz de gerar riqueza tecnológica. A missão da companhia diante da sociedade brasileira advém da saúde econômica que promove conhecimento tecnológico, gera lucros e desenvolvimento para o País. Seu compromisso deixa de ser com os governos que se sucedem para ser com os acionistas, aí incluído o Estado brasileiro.

Adriano Pires e Marcio Balthazar da Silveira